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10.3.2

5.
Brianna mantinha os olhos fixos na pintura da família Preston, pendurada sobre a lareira da biblioteca. O que diriam seus patrões se adivinhassem a pouca disposição dela para trabalhar? Tinha passado a manhã inteira como sonâmbula, e mal conseguia tomar as lições das crianças. A pequena Julia até que se comportava bem, mas a adolescente Cathy estava indócil por algum motivo que Brie não conseguia imaginar. E Vincent jr, percebendo sua preguiça, estava com vontade de fazer das suas.

Ele era um menino adorável nos dez por cento do tempo em que não estava sendo terrível. Aos cinco anos de idade, já era um sedutor. Fazia as maiores artes pois não tinha a menor dificuldade em obter o perdão dos adultos, apenas olhando com um jeitinho meigo que tinha nascido com ele.

Vince levantou furtivamente da sua classe, na biblioteca, e com um puxão arrancou o laço de fita do vestido da irmã mais velha. Depois, saiu correndo pela porta que dava diretamente no jardim.

- “Faça suas tarefas, eu cuido dele”, ordenou Brianna para Cathy, que esbravejava contra o irmão daninho.

Brie saiu correndo pela neve derretida para pegar o pequeno infrator. Vince ria e sai cada vez mais longe, se escondendo atrás dos arbustos.

- “Você não me alcança!”, provocava.

- “Vince, você tem que devolver a fita para sua irmã”, disse Brianna, sabendo que jamais conseguiria alcançar aquele espoletinha.

Foi então que lembrou do seu poder.

Brie deu um sorriso malicioso. Não faria mal usar seu poder só de brincadeira, e no fim das contas ela estaria fazendo uma coisa boa, devolvendo o laço a quem ele pertencia. Ela olhou para os lados para se certificar de que ninguém estava vendo e franziu de leve o olhar.

Imediatamente, Vince sentiu como se algo o estivesse puxando de volta para casa.

- “Ops! Eu estou escorregando!”, gritou ele, patinando no chão úmido.

Brianna riu e correu para pegá-lo. Sua telecinese podia funcionar muito bem para segurar uma pessoa pequena.

Ela agarrou o pequeno, que imediatamente parou de lutar e deu uma gostosa risada. Era isso que o fazia tão irresistível: quando finalmente alguém podia puni-lo, ele parecia ser exatamente como um anjo.

Brie tomou a fita e começou a lhe fazer cosquinhas. O garoto ria e a abraçava. Ela encheu as bochechas dele de beijos, até ele prometer que não faria de novo uma arte daquelas.

Brianna largou o menino, que voltou correndo para a biblioteca. “Ele é um amorzinho”, pensou, com o rosto iluminado por um sorriso. O cansaço tinha desaparecido completamente. Ela se virou para voltar para casa, e só então viu que John a observava.

Ele também tinha um sorriso no rosto. Imenso, como ela jamais tinha visto antes. Aproximou-se dela como quem vem conversar com uma velha amiga.

- “Você tem muito jeito com esse pestinha”, disse.

- “Acho que ele é que tem jeito comigo”, respondeu Brie.

- “Então ele tem sorte. Nasceu com o dom de encantar as mulheres mais bonitas.”

O rosto dela ficou vermelho. E lá ia o coração disparar de novo, contra a sua vontade.

- “O senhor me deixa sem jeito...”

- “Me chame só de John.”

- “Não seria adequado.”

- “Por que não? Não sou seu patrão. Sou apenas seu amigo”, disse ele, aproximando-se dela e oferecendo o braço para uma caminhada. “Venha conversar um pouco comigo. Você merece alguns minutos de descanso."

Os dois caminharam lentamente pelo jardim imenso e bem cuidado dos Preston. Mesmo estando quase no inverno, as plantas eram exuberantes.

- “Há algum tempo quero lhe pedir um favor. Espero que não ache muita ousadia minha...”

- “O que é?”, perguntou ela, curiosa.

- “Não sou um grande pintor, sou apenas um amador, mas... adoraria fazer um retrato seu. Você posa para mim? Gostaria muito de desenhá-la.”

Brianna estava louca para dizer imediatamente que sim.

- “O senhor e a senhora Preston poderiam se aborrecer com isso...”

- “Não vou atrapalhar o seu trabalho, eu juro! Eu fico bem quietinho, sentado num canto da biblioteca, enquanto você dá aula. Prometo que não vou dar nem um pio!”, implorou John.

Brie sorriu. Só de saber que ele ficaria olhando para ela fazia com que se sentisse muito feliz.

- “Nesse caso, você pode. Mas tem que ficar em silêncio absoluto, ein?”

Os dois se aproximaram da casa, satisfeitos com a companhia um do outro. De repente, John parou na frente dela, levando a mão até a sua cabeça.

- “Fique parada, tem alguma coisa nos seus cabelos”.

Ela sentiu quando ele tocou de leve as longas mechas castanhas que, naquele dia, usava soltas. John tirou uma folha de arbusto que tinha ficado presa quando ela perseguia Vincent jr.

- “Seus cabelos são tão macios... exatamente como eu pensei que seriam.”

Brianna fechou os olhos para sentir o toque das mãos de John. Estavam tão próximos que ela sentia até mesmo sua respiração.

- “Senhor John! O senhor Preston quer lhe falar com urgência!”, gritou uma voz áspera atrás dos dois.

Era Raul, o novo cocheiro, que nas horas vagas cuidava dos cavalos e do jardim. Brianna mal podia acreditar que ele tinha os interrompido. Lançou-lhe um olhar cheio de raiva, e pôde perceber que o rapaz se divertia com isso.

Irritada, deu as costas para Raul e voltou para a biblioteca. Mais um dia terminava, e de novo suas emoções eram um turbilhão dentro do peito. À noite, já em sua cama, quis ficar lembrado do toque de John em seus cabelos. Mas estava cansada demais, e já não tinha forças para evitar o sono.

Assim que fechou os olhos, entretanto, foi transportada para a caverna que já conhecia muito bem. Lá no fundo, Charlotte parecia alegre.

- “Brianna, você terá ajuda em sua missão!”, disse. “Através do poder da minha filha, vou te enviar para um lugar onde encontrará pessoas para te auxiliar. Leve-as até a sua época; faça com que fiquem com você. Juntas, devem descobrir quem está tramando para eliminar a linhagem das Bruxas Warren!”

Mal Charlotte tinha acabado de falar, e Brianna sentiu tudo girar a seu redor. Fechou os olhos, e teve a impressão de que seu corpo inteiro se dissolvia no ar.

6.
Paige folheia nervosamente o Livro das Sombras.

- “Demonização, demonização... não há nada aqui sobre ervas que possam nos transformar em demônios!”

- “Confirmando o que diz Coop. A poção que vocês fizeram não teve nada a ver com isso”, conclui Phoebe.

- “Então só pode ser coisa de alguém no Mundo Inferior. Vou chamar Leo. Os anciãos talvez possam nos ajudar”, determina Piper.

Mas ela não tem tempo de chamar pelo marido. No meio da sala, exatamente no lugar onde antes Phoebe e Coop tinham aparecido, começa a se formar uma névoa. Há um brilho intenso, e uma moça se materializa no ar. Ela está de olhos fechados e, assim que os abre, a névoa desaparece e ela se torna totalmente real.

- “Onde eu estou? Quem são vocês?”

- “Ei, você é que entrou na nossa casa!”, alerta Piper “Pode começar com as explicações!”

- “Devem ser as pessoas de que Charlotte falou... mas que roupas esquisitas estão usando!” A moça olha ao redor, falando sozinha. “Será que estou em outra dimensão?”

- “Nessa dimensão também usamos camisolas parecidas com a sua para dormir. Agora, que tal começar a nos contar direitinho de onde você vem?”, diz Phoebe.

- “Meu nome é Brianna. Eu estava sonhando, quer dizer... achei que estava. Minha antepassada, Charlotte Warren, disse que ia me levar até pessoas que podiam me ajudar. Então, eu apareci aqui!”

As irmãs arregalam os olhos. Charlotte Warren? Brianna? O nome dela estava no Livro das Sombras!

- “Responda, Brianna: que dia é hoje?” pergunta Paige.

- “Cinco de Novembro de 1895. Por quê?”

As irmãs arregalam os olhos de espanto.

- “Bem, você não está em outra dimensão. O que você fez foi uma viagem no tempo!”

Brianna olha por todos os lados do sótão, impressionada com tudo de diferente que esse novo tempo oferece. Muito animada, ela até esqueceu o por que está ali.

- “Acha que podemos confiar nela?” cochicha Piper.

- “Vamos fazer um teste”, sugere Phoebe. “Brianna, você conhece isso?” pergunta, apontando para o Livro.

- “É um Livro das Sombras, igualzinho ao meu!”

Ela se aproxima e começa a folhear.

- “Se ela pode tocar no Livro, significa que é mesmo uma Warren”, conclui Phoebe.”

- “Mas esse é o meu Livro das Sombras!” espanta-se Brianna. "Só que está diferente!”

- “Sim, ele está mais de um século diferente. Foi ampliado por nossa bisavó, nossa avó, nossa mãe, e agora por nós mesmas.”

- “Então, isso quer dizer que somos parentes? Oh, vocês são três! É possível que sejam as... as...”

- “As Encantadas. Sim, somos nós mesmas. Ou éramos, até algumas horas trás”, diz Paige.

A recém-chegada fica exultante com a revelação.

- “Estou tão feliz que Charlotte tenha me mandado até vocês! Mas por quê não seriam mais As Encantadas?”

- “Bem, isso é uma história que contaremos para você depois. Eu sou Piper, essas são Phoebe e Paige. E esse é Coop, um cupido.”

- “É um honra conhecê-los!”

- “Vamos deixar as honras de lado e falar do que interessa. Você disse que Charlotte a mandou aqui para pedir ajuda. No que podemos lhe ajudar?”

- “Eu não sei exatamente. Quando estava para nascer, um oráculo disse à minha mãe que eu seria responsável por garantir a continuidade da linhagem das bruxas Warren. É chegado o tempo em que tenho que fazer alguma coisa para isso, mas não tenho idéia do que seja!”

Brianna conta às irmãs tudo sobre sua vida e seus sonhos nos últimos dias.

- “Bem, só nos resta fazer o que pediu nossa ancestral. Nós três vamos voltar com você para o seu tempo, e tentar descobrir o que está acontecendo”, diz Phoebe.

- “Vamos?” questiona Piper.

- “É claro! Talvez tudo isso tenha a ver com o que estamos passado agora, com essas estranhas transformações.”, sugere Paige.

- “Mas como vamos simplesmente chegar a 1895 e nos meter na vida de Brianna sem levantar suspeitas?”

- “Sei de algém que pode ajudar”, diz Coop. “Lady Berthram seria ideal para introduzí-las na alta sociedade de Boston".

- "Lady o quê? Quem é ela?", pergunta Phoebe, desconfiada.

- "É a mulher mais bonita da Inglaterra. E amiga da minha mãe."

Phoebe fica séria e calada. Mãe? Como é que Coop nunca tinha mencionado isso antes?

- "Mas como essa mulher vai nos ajudar?" pergunta Paige.

- "Vamos usar o meu anel e voltar ao passado. Lady Berthram também viveu no século XIX.”


7.
Brianna estava nervosa. Não tinha o hábito de contar mentiras, ainda mais para seus patrões. “Só espero que Piper saiba mesmo cozinhar como disse”, pensou.

- “Senhora Preston?”

- “Sim, Brianna.”

- “A cozinheira de que lhe falei já está aí. Ela está na cozinha, com o mordomo”.

Emily Preston era o tipo de dona de casa que gosta de ver tudo com os próprios olhos, e controla os empregados com mão de ferro. A cozinheira anterior que o diga! Não aguentou ficar três meses sob as exigências constantes da patroa.

- “Eu mesma vou conversar com ela. E que não seja mais uma dessas tolas que não sabem sequer fazer uma torta de maçãs!”

Piper se espantou com a altura e o porte da mulher que entrou na cozinha, olhando-a de cima a baixo. Parecia uma rainha, de cabeça bem erguida e ar de quem não dava moleza para os empregados.

- “Então é você que quer o emprego de cozinheira? Saiba que não contratamos ninguém sem antes fazer um teste. Sou Emily Preston, e se quiser trabalhar para mim, tem que ser a melhor”.

Piper assumiu uma posição de sentido, como se estivesse na frente de um general.

- “Os outros empregados vão ajudar você a localizar as coisas na cozinha. Minhas duas irmãs chegam hoje da Inglaterra, e quero que sejam recebidas com o melhor jantar. Esse será o seu teste, e espero que tente me impressionar se quiser ficar aqui.” Dizendo isso, a mulher deu as costas e saiu.

Piper não pode deixar de admirar a empáfia da senhora. Estava numa saia justa por não ter quem preparasse o jantar para suas convidadas, e fazia parecer que ela é quem lhe devia um favor em cozinhar! Depois que a patroa se afastou, ela deu um jeito de ir chamar Brianna na biblioteca.

- “Você já colocou a carta no lugar?” perguntou Piper, cochichando.

- “Sim. Agora ela vai para o quarto, para ler a correspondência. É só esperar para ver o que acontece.”

De fato, em poucos minutos, as duas ouviram a patroa gritando escadaria abaixo, rumo ao escritório, atrás do marido.

- “Vincent! Vincent!”

Poucas vezes o senhor Preston tinha visto a esposa tão agitada. Emily dificilmente falava alto e jamais corria. Quando entrou no escritório, o rosto normalmente pálido estava vermelho.

- “O que houve, querida! Aconteceu alguma coisa com as suas irmãs?”

- “Oh, não! Cassie e Victoria estão perfeitamente bem. Mas veja isso!”, respondeu a esposa, sacudindo algumas folhas de papel na mão. “É uma carta de Lady Berthram! Imagine... Lady Berthram escrevendo para mim, e para pedir um favor!”

Vincent pediu que a esposa se acalmasse, e fez com que sentasse numa das poltronas para respirar fundo e controlar um pouco a animação. Ele nem imaginava quem era essa tal Lady Berthram, mas receber uma carta de uma nobre inglesa era sem dúvida uma distinção, motivo para se gabar mais tarde entre o círculo de amigos ricaços de Boston.

- “E o que pede Lady Berthram?”

- “Ela diz que uma grande amiga sua, Lady Phoebe Halliwell, está viajando pela América e chegará a Boston essa semana. Pede que encontremos algum lugar para ela ficar. Imagine! Vai ficar hospedada aqui, sem dúvida!” exultou Emily.

- “É claro! Ninguém melhor que você para apresentá-la à toda a sociedade! Emily... temos que organizar um baile. Em homenagem à ela e às suas irmãs, que vieram da Inglaterra na mesma semana!”

- “Oh Vincent, você é o melhor marido do mundo!”

Durante o resto do dia, o alvoroço tomou conta da antes pacata Mansão Preston. Emily fez com que todos os quartos fossem abertos e arejados, todas as roupas de cama trocadas, que tirassem o pó dos móveis e mandassem afinar o piano.

- “Brianna, chega de livros por hora. Quero que treine Cathy no piano. Faça com que execute duas ou três peças com perfeição. Nada demais, apenas para impressionar Lady Halliwell. Minhas irmãs tocarão para nos divertir no resto da noite.”

- “Suas irmãs?”

- “Isso mesmo. Vincent está buscando elas agora mesmo na estação. Vicky e Cassie vão ficar conosco por algumas semanas. Ou pelo menos até que John se interesse por uma delas...”, respondeu a patroa, com o ar mais blasé do mundo.

Brie congelou. Então, os Preston não haviam desistido de casar John! Se Maomé não ia à Inglaterra... a Inglaterra vinha até Maomé.

8.

As irmãs Elsegood haviam chegado há três dias e, desde então, Brianna não conseguia mais conversar com John. Elas o monopolizavam. Estavam sempre inventando um chá, um sarau, um passeio de carruagem... se colocavam uma a cada lado do rapaz em longos passeios pelo jardim. Quando uma terminava um assunto, a irmã logo começava outro, numa clara disputa por atenção.

Brie estava cansada de tentar fazer Cathy aprender piano. Além da pouca vocação para a música, a menina não parecia nem um pouco interessada em impressionar “Lady Halliwell”. Aliás, ela não se interessava por nada ultimamente. Só ficava sentada em sua classe, na biblioteca, lançando um olhar perdido pela janela.

De repente Brie teve uma desconfiança. Levantou do piano e disfarçadamente fez a volta na sala, se colocando exatamente atrás da adolescente. Assim, pôde ver o que ela tanto observava.

Há alguns metros de distância Raul, o cocheiro, lutava para serrar o galho de uma árvore. Era uma árvore grossa, um trabalho bastante difícil, e ele manejava o serrote com movimentos bruscos e determinação. O esforço destacava ainda mais os músculos do seu peito, que brilhava de suor mesmo no frio outono de Boston.

Brianna ficou assustada; só então entendeu aquele olhar distante, aquela expressão no rosto da filha de seus patrões... que absurdo!

- “Cathy!”, repreendeu ela, dando um susto na menina. “O que isso significa?”

- “Isso o que?..” respondeu a moça, tentando aparentar inocência.

- “Não se faça de boba. Você passa horas olhando para o jardim, e agora eu sei que lhe interessa tanto! Onde já se viu ficar olhando para o cocheiro desse jeito?”

- “Ora, não se meta na minha vida!”, desafiou a garota. “Você não tem nada a ver com isso, já tenho 16 nos e olho para quem eu quiser!”

- “Mas isso não é apropriado! Ninguém aqui sabe direito de onde vem esse homem!”

- “Você está é com ciúmes!”

Brianna ficou furiosa com a petulância da menina.

- “Eu jamais olharia para um homem tão arrogante e grosseiro. Mas se a minha opinião não lhe importa, talvez a de seus pais faça diferença. É claro que eles imediatamente mandariam esse cocheiro para bem longe, e providenciariam um bom casamento arranjado para uma filha dada a ligações inconvenientes.”

Aquele argumento fez Cathy tremer de medo. Ela desviou os olhou de Raul e baixou a cabeça.

- “De agora em diante, você senta na classe do seu irmão. Bem longe da janela”.

Enquanto Cathy retirava relutantemente seu material de cima da mesa, Brianna olhou novamente pela janela. Raul estava terminando o trabalho. Ele limpou o suor do rosto com a manga da camisa. Que estranho... será que esse rapaz nunca sentia frio?

Então ele levantou a cabeça e olhou diretamente para ela. Tinha uns olhos verdes perturbadores, e quando estava sério assim, parecia meio assustador. Naquele instante, Brianna teve um mau pressentimento: “Esse homem está escondendo alguma coisa”, pensou.

- “Ela está chegando, ela está chegando!”, gritou Vince Jr, que passava correndo pelo corredor. “A moça princesa da Inglaterra está chegando!”

- “Ela é uma duquesa, querido”, corrigiu a mãe, preparando-se para receber a supostamente nobre convidada.

Dentro da carruagem que se aproximava do portão da Mansão Preston, Phoebe e Paige se viam metidas em longos vestidos de época.

- “Não entendo como as mulheres puderam usar isso!”, reclamou Phoebe. “Parece que vou sufocar aqui dentro! Meu reino por um top de barriga de fora...”

- “Eu até poderia usar esse espartilho... mas sem o vestido por cima!” brincou Paige.

A carruagem parou bem em frente à entrada principal. O mordomo apressou-se em abrir a porta. Lá de dentro, surgiu primeiro um imenso chapelão de abas largas. Phoebe desceu da carruagem e só então levantou o rosto para olhar para a casa, e aqueles que vinham recebê-la.

Os Preston ficaram de boca aberta de espanto. Ela parecia uma rainha! O vestido longo era de um verde escuro belíssimo, todo enfeitado com rendas. O leque parecia uma peça de joalheria, bordado com fios de ouro e pérolas. Phoebe se movia com elegância, e em beleza não podia ser comparada a nenhuma das mulheres da família anfitriã.

Emily e suas irmãs se cutucavam. Com tamanha beleza, como nunca tinha ouvido falar em Lady Halliwell?

Phoebe aproximou-se usando toda gentileza e mesuras das quais podia se lembrar.

- “Você deve ser a senhora Preston. Eu poderia reconhecê-la em qualquer lugar! É ainda mais bela do que me descreveram. Senhor Preston, que casa magnífica! Quanta gentileza de me receber.”

Naquele momento, ela ganhou o coração dos donos da Mansão.

- “Uma amiga de Lady Berthram é minha amiga também”, respondeu Emily Preston, satisfeita. “Venha, deve estar cansada da viagem.”

- “Por favor, peço que ajudem a senhorita Matthews. É minha dama de companhia”, disse Phoebe, apontando para a carruagem. Na porta, atrapalhada com o vestido comprido, Paige saia desajeitadamente do veículo.

- “É claro!”, disse o senhor Preston, fazendo um sinal para o mordomo que se aproximou para ajudar a desajeitada Paige com a bagagem. Espiando de longe, Piper se divertia com a cena.

As duas subiram para o suntuoso quarto de hóspedes que abrigaria Phoebe. Um quarto menor, ao lado, serviria para Paige, sua suposta criada. Quando finalmente ficaram sozinhas com a desculpa de arrumar a bagagem, as duas se atiraram na imensa cama de dossel.

- “Vai ser divertido passar uns dias aqui!”, disse Paige. “Férias em 1895, graças ao anel de Coop!”

Mas Phoebe não parecia tão animada.

- “Pra falar a verdade, estou meio incomodada com essa história toda. Coop nunca me disse que tinha uma mãe!”

- “Pode ser que ele apenas não tenha tido a oportunidade... Coop não é que nem um desses caras que se conhece numa festa ou num bar. Ele é um ser mágico. A família dele pode ser, bem... um pouco diferente”.

- “O que você quer dizer com isso”.

Paige imediatamente se arrependeu do que havia falado.

- “Nada de mais, só quero dizer que talvez a mãe dele também seja cupido, e tenha seu trabalho, e esteja ocupada com isso. Entende o que eu quero dizer? Não espere encontrar uma família humana tradicional, com churrascos nos fins de semana e tudo mais.”

Phoebe suspirou. Aquilo era um pouco duro, mas fazia sentido.

As duas ouviram batidas na porta, e Paige foi atender. Era uma das criadas dos Preston, que entregou um jarro d’água cheio nas suas mãos.

- “A senhora Preston convida Lady Halliwell para conhecer o restante da propriedade, assim que tiver descansada e refrescada.”

- “Avise sua patroa que milady estará pronta em uma hora”.

A porta se fechou e Phoebe olhou séria para a irmã.

- “Uma hora? Prá quê tanto tempo? Temos que começar a investigar esse lugar imediatamente!”

- “Não se esqueça que você é uma nobre. Precisa de tempo para estar ‘descansada e refrescada’”, debochou Paige, imitando as mesuras dos donos da casa. Finalmente, ela conseguia arrancar um sorriso da irmã.

2 comentários:

viciadoseries disse...

"irmão daninho" :))
oque seria?
as fotos estao espetaculares
assim como a historia
tenho que parar de escrever e continuar lendo....

Anônimo disse...

estou anciosissima com a continuaçao a historia ta otima mas confesso que quero ver a outra parte

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