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10.3.4

13.
Na manhã seguinte, Paige esperava ansiosa na biblioteca pela chegada de Brianna. Ela havia conversado com Piper e Phoebe na noite anterior, e as três estavam muito preocupadas com a evolução dos poderes demoníacos de ambas. “Será que meus poderes de demônio também estão aumentando?” pensou. E resolveu fazer um teste.

Ela se aproximou da lareira onde a lenha já estava preparada para ser acesa. “Como será que se faz isso?” Apontou a mão direita do mesmo jeito que via os demônios fazerem, e quase caiu para trás de susto. Dela saiu uma imensa bola de fogo, que incendiou facilmente a lenha.

- “Uau!” disse, em voz alta.

Nesse momento, Brianna entrou no aposento.

- “Você está vendo isso?”

- “Sim, Ligaram a lareira tão cedo.”

- “Ninguém ligou a lareira, eu é que fiz isso! Com uma bola de fogo, que saiu das minhas próprias mãos!”

Brianna logo percebeu a gravidade da situação.

- “Isso quer dizer que está ficando pior, não é?”

- “Sim, e não só comigo, mas também com Phoebe e com Piper. É óbvio que não nos resta muito tempo!”

- “E o que vamos fazer?”

- “Achamos que talvez você possa fazer alguma coisa. É a única entre nós que não foi afetada pela demonização. E se mantém puros os poderes das bruxas Warren, pode tentar fazer um feitiço que reverta esse processo!”

- “Mas eu não sei nem por onde começar! Oh, Paige... me sinto tão culpada! Vocês estão sob uma ameaça tão grande, e nos últimos dias eu só tenho me preocupado com meus problemas pessoais...”

- “Como assim?”

- “Quer dizer... eu devia estar estudando algum feitiço para salvar vocês! Foi o que minha mãe e Charlotte me incumbiram de fazer. Mas eu não pensava em mais nada, apenas em John, e agora com esse pedido de casamento...”

- “O quê??? De que pedido de casamento você está falando?”

- “John Preston pediu minha mão em casamento ontem à noite. Nesse momento ele deve estar no escritório, comunicando isso para o senhor Preston. Eu estou tão nervosa! Não sei como o patrão vai reagir!”

Paige estava de olhos arregalados e boca aberta. Sabia que a ancestral tinha uma paixonite por John, mas não imaginou que as coisas estivessem tão adiantadas.

- “Então, seu futuro está sendo decidido nesse momento! Diga: há algum lugar onde possamos ouvir essa conversa?”

- “Bem... do jardim se escuta tudo que é dito no escritório, mas...”

Paige não esperou resposta. Agarrou Brianna pela mão e saiu em direção ao jardim.

- “Vamos, depressa!”

- “Mas nós não devemos fazer isso, Paige! Não é certo!”

- “Tudo que possa influenciar a sua vida é importante agora. Venha!”

Sob protestos, Brianna acompanhou-a até perto da janela do escritório. E como os dois homens discutiam em voz alta, não houve nenhuma dificuldade em ouvir o que diziam.

- “Isso é um absurdo, John! Desde quando vem acontecendo?”

- “Não há nada ‘acontecendo’, primo! Só há uma decisão que foi tomada, e eu estou a comunicando.”

- “Mas não é possível que você tenha se envolvido com uma... uma empregada dessa casa! Como espera que eu aceite isso? Como vou contar para a senhora Preston que o jovem promissor que pensávamos casar com uma de suas irmãs vai desposar uma mulher de classe inferior!”

- “Brianna não é uma simples empregada! É uma mulher bem educada, instruída, inteligente. Você sabe disso tão bem quanto eu, senão não lhe confiaria seus próprios filhos!”

- “É uma traidora, isso sim! Uma víbora que acolhemos nessa casa na maior inocência! Uma oportunista que pretende agarrar um jovem de bom futuro, será que você não vê?”

- “Cuidado com o que diz, Vincent, você está me ofendendo!”

- “Ofensa será apresentar essa mulher como sua esposa à toda sociedade de Boston!”

Paige ficou alarmada com o caminho que estava tomando aquela discussão. Foi quando olhou para Brianna e a viu com os olhos cheios de lágrimas.

- “Brianna, querida, eu sinto muito que tenha escutado isso, mas não se deixe impressionar. É apenas o impacto do primeiro momento! Vincent Preston é um homem orgulhoso, não está pensando no que diz!”

- “Ele está dizendo exatamente o que pensa, Paige! Como pude ser tão ingênua, e imaginar que seria aceita nessa família?”

- “Calma, minha querida, as coisas não são assim. Era certo que a primeira reação deles não seria boa, mas não é motivo para perder a esperança! Tudo vai mudar com um pouco mais de tempo.”

- “Me sinto tão humilhada... não quero passar um minuto mais nessa casa! Eu vou para a pensão, nunca mais vou voltar aqui!”

Paige pensou em detê-la mas, em seguida, achou melhor deixar que fosse. Brianna precisava ficar um pouco sozinha, e ela tinha que contar para as irmãs tudo o que estava acontecendo. Foi quando percebeu um barulho num dos arbustos perto da janela. Aproximou-se, e deu de cara com Raul.

Ele seguramente estava ouvindo a mesma conversa que as duas. Olhou-a com uma cara de espanto, de quem é pego em flagrante. Depois virou as costas e saiu correndo.

Paige saiu atrás, mas era impossível correr com o vestido longo que usava. Naquele momento, deu toda razão à Phoebe e suas reclamações sobre a roupa pesada do século 19. E, mais do que qualquer coisa, sentiu falta de seus poderes.

Mas não havia tempo para lamentações. Aquele Raul estava tramando alguma coisa, senão não estaria ali escutando a conversa entre os Preston. Paige voltou à mansão para reunir as irmãs e ir até a pensão, em busca de Brianna. Talvez as desconfianças dela fossem certas, e o cocheiro estivesse mesmo por trás de tudo que estava acontecendo com as descendentes da família Warren.

14.
A senhora Reinolds olhou desconfiada para o jovem à sua frente.

- “Essa é uma pensão de respeito, mocinho. Não permito que minhas hóspedes recebam visitas masculinas”.

- “Mas senhora, preciso falar com Brianna com muita urgência!”

- “Pois encontre outro lugar para isso!”

Vendo a teimosia da velhota, John resolveu mudar de tática.

- “Se a senhora prefere assim... Não imaginei que um patrão não pudesse conversar com uma empregada na sua pensão. Me ofende que a senhora receba um Preston com tanta desconfiança!”

- “Um Preston?” A mulher arregalou os olhos. “Então o senhor é o patrão dela? Por que não disse logo! Por favor, entre, sinta-se à vontade” disse, conduzindo-o até a sala de visitas. “Peço mil desculpas, jamais imaginei que receberia um Preston aqui na pensão!”

A senhora Reinolds se desculpou insistentemente e depois se afastou, cheia de mesuras, para chamar Brianna. A jovem ficou assustada quando ouviu que seu patrão a esperava. Imaginou que, se Vincent Preston tinha se dado o trabalho de ir até ali, certamente seria para humilhá-la ainda mais. Seu coração só se acalmou quando viu que era John.

- “Brianna! Procurei você por toda a mansão... por onde esteve?”

Ela fez sinal para que John falasse em voz baixa. Sua senhoria tinha o costume de escutar atrás das portas.

- “John, preciso contar a verdade para você. Eu escutei tudo, toda a conversa que teve com o senhor Preston.” Ao dizer isso, uma lágrima correu pelo seu rosto. “Sei que não podemos ficar juntos”.

Mas o rapaz sorria, como sempre. Não parecia se importar com o que o primo havia dito.

- “Escute, minha querida, não se deixe impressionar pelo que ouviu de Vincent. Ele ficou apenas surpreso, estava com a cabeça cheia de esperanças bobas de que eu casasse com uma de suas cunhadas... Foi um choque, mas ele vai superar. Vai esquecer tudo isso e recebê-la muito bem quando estivermos casados”.

- “Mas... isso é impossível! Seu primo não aprova, ele nunca vai aceitar! E isso vai prejudicar a sua vida, John, a sua carreira...”

- “Não seja tão dramática!” respondeu ele, carinhosamente. “Escute: os Preston amam você, respeitam você, conhecem o seu valor. Se não fosse assim, não teriam lhe confiado a educação dos filhos deles. Vincent e Emily vão acabar se acostumando, e vão concordar que fiz a melhor escolha. Tenho certeza disso!”

John estava falando o mesmo que Paige, e foi um consolo para Brianna pensar que talvez isso pudesse mesmo acontecer, embora não tivesse muitas esperanças.

Ele se aproximou e beijou-a no rosto.

- “Escute: eu já tenho tudo acertado”, continuou o rapaz. “Conheço um sacerdote que pode nos casar. Ele já preparou a cerimônia, está só nos esperando. Vamos agora mesmo, meu amor.”

Brianna ficou assustada. Não podia casar assim, escondido de todo mundo, e principalmente sem avisar as irmãs Halliwell.

- “Eu não posso fazer isso, John!”

- “Mas por que? Então não me ama? Por favor, não me diga que estive enganado esse tempo todo! Então, seu coração não é constante como o meu!”

- “Não é nada disso! É que... é que...”

Ela ficou sem palavras. Como iria explicar que precisava avisar suas descendentes, que eram bruxas e vinham do futuro?

- “John, há muitas coisas sobre mim que você não sabe...”

- “Eu sei tudo que preciso. Sei que amo você, e nada mais me importa nesse momento. Deixe que eu descubra o resto quando estivermos casados, quando eu puder te chamar de esposa, dizer que é minha...”

Brianna sentiu os lábios dele se aproximando dos dela. John beijou-a com paixão, e era como se ela estivesse tonta. Não conseguia resistir a se entregar.

Sentir o toque dele era como perder toda a razão.

- “Venha, minha carruagem está aí na frente...”

Os dois saíram por uma porta lateral, sem que a senhora Reinolds os visse. Brianna já subia na carruagem quando escutou o barulho de uma pancada.

Olhou para trás e viu John desmaiado no chão. Atrás dele estava Raul, que o havia golpeado na cabeça.

- “John!”, gritou, tentando chegar até o jovem. Mas Raul a segurou com força, e jogou-a para dentro da carruagem.

- “Suba aí, e cale a sua boca!”

- “O que você fez com ele?”

Brianna uniu toda sua força para tentar jogar Raul para trás através da telecinese. Mas ele era forte demais para ela.

- “Pare com isso, bruxa!” disse ele, sentindo que ela usava se poder. “Eiáaa”, gritou, fazendo os cavalos correrem.

A carruagem se afastava rapidamente, e Brianna não pôde mais ver John. “Maldito!” gritou, se lançando sobre Raul aos tapas e fazendo com que ele perdesse a direção.

- “Pare com isso, sua maluca, ou vamos morrer os dois!”

- “Por que você está fazendo isso? Você matou John, seu bandido!”

- “Bem que eu queria ter poder para matar aquele desgraçado, mas o infeliz já deve estar acordando da pancada que eu lhe dei. Fique calminha aí, que o seu namorado dos infernos está bem vivinho... ainda!”

- “Você é um demônio, não é? O que quer comigo?”

- “Escute aqui, garota, e entenda bem: eu estou salvando você. Demônio é o que ficou lá atrás.”

Os cavalos disparavam à toda pela estrada, afastando-se da zona urbana de Boston. Brianna tinha que se segurar para não cair. Saltar da carruagem para escapar de Raul estava fora de questão, seria perigoso demais.

Enquanto isso, na frente da pensão, John recobrava os sentidos.

- “O senhor se machucou? Está se sentindo mal?” perguntou a senhora Reinolds, alarmada com o jovem que acabara de encontrar caído na frente da sua pensão.

Mas ele não respondeu. Olhou para os lados e se deu conta de que a carruagem havia sumido. E Brianna também.

- “Maldição!” gritou, para espanto da velha senhora.

A carruagem já ia longe. Raul saiu da estrada e pegou um caminho escondido entre as árvores de uma floresta.

- “Aqui estaremos seguros, mas será por pouco tempo. Ele logo vai nos encontrar.”

- “Então agora pode me explicar tudo isso?” perguntou Brianna, furiosa.

- “Sim, até porque não vou poder protegê-la por muito tempo. Esse cara com quem você pensa que vai casar não é John Preston.”

“Esse homem só pode estar louco”, pensou Brie. “E agora, como vou me livrar dessa? Talvez se eu tiver forças para quebrar uma galho de árvore bem na cabeça dele...”

- “Preste atenção no que estou dizendo, menina!” interrompeu Raul.

- “Pois bem, se ele não é John Preston, quem é então?”

- “É um demônio. Um demônio que matou meu melhor amigo e tomou o lugar dele, e agora eu sei porque: apenas para se aproximar de você.”

- “Como assim?” perguntou Brianna, intrigada.

- “John Preston foi meu colega de escola, e era meu melhor amigo. Nós morávamos em San Francisco, eu com a minha família, e ele com o pai que era viúvo. Um dia fui visitá-lo, mas antes que pudesse bater na porta da casa vi pela janela a cena mais horrível de toda minha vida. Uma imagem que jamais vou esquecer”.

O rosto de Raul se tornou ainda mais sombrio.

- “Havia dois corpos no chão, bem no meio da sala. Eram John e o pai dele, mortos. Vi uma figura grotesca, toda feita de fogo, se aproximando de John... e foi então que ele fez!”

- “Fez o que?”

- “Ele colocou sua mão horrível bem na frente do rosto de John... e foi como se entrasse para o corpo do meu amigo, tomando a sua forma. Ele se levantou, mas eu sabia que John não estava mais ali... era aquele demônio! Depois, ele começou a lançar fogo pela mãos, incendiando toda a casa”.

- “Isso é um absurdo, eu não acredito em você!”

Mas Raul continuou falando como se não tivesse sido interrompido.

- “O incêndio foi dado como acidental, e com uma única vítima: o senhor Preston. O demônio tinha assumido a identidade de John, e se fazia passar por ele, mesmo no funeral. Comecei a seguí-lo, pois percebi que ele não sabia quem eu era. E ele logo deu um jeito de vir morar com o primo rico, aqui em Boston. No início, achei que tinha feito tudo pelo dinheiro. Imaginei que ia matar os Preston daqui também. Mas logo ficou claro que ele tinha outra coisa em mente... você!”

- “Mas o que ele haveria de querer comigo?”

- “Responda você, porque isso eu também quero saber! Sei que você é uma bruxa... ví quando segurou o menino Vincent no ar, naquela tarde, no jardim. No início, pensei até que fosse uma cúmplice do demônio. Mas logo notei que não sabia de nada. Além do mais ele fazia força demais conquistá-la...”

De repente, Brianna caiu em si. Alguma coisa realmente parecia muito errada.

- “Íamos nos casar, era isso que ele queria comigo.”

- “E ainda quero”, disse uma voz que vinha de trás dos dois. Era John. “Isso é para aprender a não se intrometer no meu caminho” disse, lançando um bola de fogo em direção ao cocheiro.

- “Raul!” gritou Brianna. O rapaz atirou-se para o lado, mas a bola de fogo explodiu no ar bem perto dele. Era impossível que não tivesse se machucado.

- “Você vem comigo” disse John, agarrando-a pelo braço e desaparecendo no ar.

15.

Paige arrastava com dificuldades a barra do seu vestido pelas ruas de Boston. Jamais tinha sentido tanta falta do seu poder de orbitar. Mas era Phoebe quem mais sofria, metida num dos trajes de dama inglesa que Coop havia arranjado com a tal amiga de sua mãe.

- “Eu juro que, se sairmos daqui, vou queimar esses vestidos um por um!”, esbravejou.

Piper era a única que não se incomodava. A roupa simples de cozinheira não tinha excessos, e era bem mais leve.

- “Calma, já chegamos. Recomponham-se! Lembrem que são senhoras da alta sociedade” falou, em tom de provocação.

Piper bateu na porta, e a senhora Reinolds atendeu de mau humor. Não lhe agradava aquela agitação toda na sua pensão.

- “O que quer? Não tenho quartos disponíveis!”

- “Sou criada de Lady Phoebe Halliwell, senhora. Como pode ver, ela está logo ali...” disse, apontando para Phoebe. “Minha ama veio ver Brianna Warren”.

A velhota arregalou os olhos mais uma vez. Afinal, que tanta gente importante andava atrás daquela menina?

- “Brianna não está, e não sei onde ela foi. Mas já está anoitecendo, e se milady quiser entrar para tomar um refresco será uma honra para mim recebê-la em minha humilde casa!”

As irmãs se olharam. E agora, onde Brianna teria ido? Piper resolveu aceitar o convite, quem sabe poderia descobrir mais alguma coisa.

Mas a velhota parecia a mais curiosa de todas para obter alguma informação. Acomodou-as na sala, e logo começou a disparar perguntas.

- “Espero que não me achem inconveniente, milady, mas o que a traz realmente até aqui? A moça está lhe devendo algum dinheiro? Ela não roubou alguma coisa, não é? Por isso o patrão dela veio até aqui? Porque, se for, saiba que não tenho nenhum parentesco com ela, eu apenas alugo o quarto e...”

- “O senhor Vincent Preston esteve aqui?”, perguntou Phoebe.

- “Preston, sim... um jovem alto, bonito. Tão novo para ser rico daquele jeito!”

Aquele não parecia ser Vincent.

- “O nome dele não seria John? John Preston?”

- “Sim, é esse mesmo! Ficou furioso quando lhe roubaram a carruagem. Bem, o que eu podia fazer? Nunca aconteceu antes, mas agora essa zona está ficando perigosa. Imagino que ele tenha ido dar queixa na delegacia de polícia...”

- “Escute senhora Reinolds, precisamos saber de Brianna. Ela foi com ele?”

- “Oh, não. Ele saiu daqui sozinho. E ela já não estava mais em casa, não sei onde se meteu! Diga, milady... ela não está metida em encrenca, não é?”

- “Não, ela apenas me prometeu... me prometeu um mapa de Boston, é isso!”

- “Um mapa?” A velhota torceu nariz, incrédula.

- “Sim, para os meus passeios! Como pode ver, gosto muito de passear. Caminhar me faz bem... e já que ela não está, quem sabe a senhora poderia me conseguir esse mapa?”

A senhora Reinolds apressou-se em conceder aquele estranho pedido. Afinal, não era sempre que se podia agradar alguém tão importante. E as três deixaram a pensão com o mapa nas mãos.

- “Piper, você trouxe o pêndulo, não é?”

- “Sim. Espero que não tenhamos perdido a habilidade de rastrear também! Vamos procurar um lugar mais escondido.”

A Lua cheia já estava alta no céu, e iluminava as ruas escuras. Perto dali, uma pequena praça cheia de árvores parecia um bom lugar para abrir o mapa e tentar rastrear Brianna. Mas, ao se aproximarem, algo chamou a atenção de Piper.

- “Olhem, é a carruagem dos Preston! Mas o que faz aqui, abandonada?”

- “Será a que roubaram de John?” pergunou Paige.

- “Não, a dele é menor. Essa só é guiada... por Raul!”

As irmãs correram para perto da carruagem. Mas não havia ninguém ali.

- “Isso está muito estranho...”

- “Mas vem em boa hora”, completou Paige. “Vamos subir nela e não precisaremos mais andar a pé.”

A idéia era meio maluca, mas fazia sentido. Já sentadas na carruagem, as irmãs abriram o mapa e rapidamente localizaram Brianna com o pêndulo.

- “Não está muito longe daqui! Mas quem vai dirigir?”

- “Eu já voei de vassoura. Não deve ser muito diferente” respondeu Phoebe, pegando as rédeas dos cavalos. “Eiáaa!”

Os animais saíram em disparada, jogando as irmãs para trás.

- “Devagar!”, gritou Piper, quase sem conseguir manter o equilíbrio.

- “O pêndulo aponta para a direita, nesse caminho, no meio do mato!” diz Paige.

- “Vamos nessa!”

Logo, elas encontram a segunda carruagem abandonada. Phoebe parou os cavalos, e elas desceram para checar.

- “Olhem, tem alguém ali no chão.”

- “É Raul! E parece ferido!”

Phoebe colocou no colo a cabeça do rapaz, que aos poucos recobrava os sentidos.

- “Raul, você está bem? O que houve?”

- “Ele... a levou. Para... para o seu covil... aiiii, me ajudem a levantar, precisamos ir até lá...”

- “Calma, você está machucado! Ele quem? Do que está falando?”

- “Do demônio que raptou Brianna... eu sei onde ele se esconde!”

- “Demônio? Foi ele que te fez isso?”

- “Sim! Vocês acreditam em mim, não é? Têm que me ajudar...”

Phoebe, Piper e Paige se olharam, indecisas. O maior suspeito de tudo que estava acontecendo, agora parecia ser um inocente. Deveriam acreditar nele?

- “Quem é esse demônio de que você fala?” pergunta Paige.


- “John Preston. É na verdade um demônio do fogo, quer se casar com Brianna à força...!

De repente, tudo parecia fazer sentido.

- “Bolas de fogo!” exclamou Piper.

- “E pirocinese... então, é daí que vem! Temos que impedir isso! Raul, onde é esse covil?”

- “Me ajudem a subir na carruagem, eu levo vocês até lá.”

16.
Brianna abriu os olhos e se viu deitada sobre uma mesa de pedras, no que parecia ser um altar. Não sabia quanto tempo tinha ficado desacordada. Estava num grande salão dentro de uma caverna, num cenário pronto para um ritual de magia negra.

O lugar estava cheio velas pretas. Eram centenas delas, e iluminavam tudo ao redor. Ela instintivamente olhou para os lados, procurando uma saída. Mas antes mesmo que pudesse se levantar um círculo de fogo surgiu ao seu redor.

- “Que bom que você já acordou, minha querida.”

Era a voz de John. Sua aparência era grotesca. Parecia não ter pele nem cabelos, pois seu corpo estava coberto por fogo. Brianna tremeu.

- “Não há motivos para se espantar com a minha aparência agora” disse o demônio, tomando novamente a forma humana de John, “Vai ter muito tempo depois para aprender a gostar de mim desse jeito. E a propósito: você está linda em seu vestido de noiva!”

Só então Brianna percebeu o que estava usando – o vestido tinha decote profundo e saia longa. Na cabeça, ela tinha uma tiara de rosas negras. Brie tirou-a e jogou longe.

- “O que quer de mim? Por que está me prendendo aqui?”

- “Para o nosso casamento, é claro. Olhe ao redor. Passei meses preparando este lugar para a cerimônia. E agora, falta muito pouco para se realizar.”

- “Não pode me obrigar a isso!”

- “É melhor se acostumar com a idéia. Você não tem escolha. Em alguns minutos, quando a Lua cheia estiver em seu ponto mais alto, no céu, será o momento propício para o ritual. E você vai se tornar minha esposa.”

- “Por que não me deixa em paz? Por que quer me forçar a casar com você?”

- “Porque a amo, é claro! Ah, e tem mais um detalhe... Sabe, querida, o futuro me foi revelado. Sua descendência terá poderes nunca antes imaginados! E com o nosso casamento, serão meus descendentes também. Os demônios mais poderosos que já existiram! Terei orgulho disso.”

Só então as peças do quebra-cabeças se juntaram na cabeça de Brianna. Ela estava tonta, enjoada ante o que estava prestes a acontecer. Sentia-se impotente e sem esperanças.

Mas ela não estava sozinha. Escondidos atrás das pedras Piper, Phoebe, Paige e Raul escutavam a conversa.

- “Temos que... impedir isso!” disse Raul, quase sem fôlego por causa dos ferimentos.

- “Calma!”, cochichou Phoebe. “Você não está em condições de fazer nada. Deixe que nós vamos cuidar disso!”

- “E o que vamos fazer?” perguntou Paige.


- “Vamos usar fogo contra fogo” respondeu Piper, mostrando as mãos. “Serão três lança-chamas contra um!”

Dentro da caverna, John se aproximou do altar e de sua prisioneira.

- “Será um prazer tê-la como esposa. Assim que nosso casamento estiver consumado, você vai começar a se transformar num demônio como eu. Então seremos felizes... e teremos muitos, muitos filhos!”

John deu uma risada macabra e Brianna tentou afastar-se. Mas ele a segurou para beijá-la à força.

-“Afaste-se dela”, disse uma voz atrás do demônio. Ele se virou e viu Piper, Phoebe e Paige.


- “O que querem aqui?”

Mas não houve resposta. Imediatamente, as irmãs começaram a bombardeá-lo com bolas de fogo, vindas de suas próprias mãos.

- “Segure isso, vovô!” disse Piper, mandando uma enorme língua de fogo em direção ao peito de John.

Mas não era fácil vencer um demônio em seu próprio elemento. John pulou para trás e absorveu o fogo com as mãos. O ataque parecia não estar fazendo efeito.

- “Suas malditas, vão pagar por esse atrevimento!” gritou, mandando uma bola de fogo em direção à Phoebe. Ela saltou no ar, e conseguiu desviar da ameaça.

- “Não está funcionando!”

- “Mais rápido!” ordenou Piper, e as irmãs lançaram um ataque em massa.

Mas o demônio era extremamente hábil e o fogo parecia apenas deixá-lo mais forte.

- “Chega de brincadeira, meninas” disse, fazendo um gesto com mão. Imediatamente, um círculo de fogo surgiu no chão ao redor das irmãs, prendendo-as como uma cela de chamas.

- “Não sei o que pretendem, mas não tenho tempo para brincadeiras agora. A Lua cheia está em seu ápice. É hora do ritual de casamen...”

John não conseguiu completar a frase. Caiu no chão, desacordado. Atrás estava Raul, que tinha usado suas últimas forças para golpear a cabeça do demônio com uma pedra.

- “Raul!” gritou brianna, correndo até o cocheiro. “Você está muito ferido!”

O rapaz não conseguia mais se manter de pé.

- “Rápido... precisam fazer algo antes... que ele acorde!”

Piper olhou para o fogo, e deu um passo à frente. Como ela suspeitava, nada lhe aconteceu.

- “Vantagens de descender de um demônio. Ainda bem que ele não sabia disso.”

- “Quer dizer que somos imunes?” disse Paige, arriscando atravessar a cortina de fogo. Phoebe também passou pelas chamas sem dificuldades.

- “Afinal... quem são vocês?” perguntou Raul.


- “Brianna vai ter bastante tempo para explicar para você mais tarde”, repondeu Piper. “Phoebe, o feitiço!”

Phoebe tirou do bolso um pedaço de papel, e as irmãs começaram a ler.

- “Demônio do fogo, que fez tanto mal,
desapareça sem deixar sinal,
nós te banimos do mundo mortal!”

O corpo de John cobriu-se de fogo, mas dessa vez ele o consumia. O demônio soltou um grito medonho, e desapareceu no ar sob a forma de cinzas.

- “Depressa, Raul está muito mal!” chamou Brianna. O jovem tinha a cabeça apoiada no colo dela, e estava prestes a soltar seu último suspiro.

- “Vamos ver se o feitiço deu certo.” Paige impôs as mãos sobre os ferimentos dele. Logo seu poder de cura começou a se manifestar.

- “Muito obrigado!” disse Raul, impressionado com o que tinha acabado de acontecer.

- “Nós é que temos que lhe agradecer. Você salvou a nós todas”, respondeu Phoebe.

Mas Brianna ainda estava preocupada.

- “E quanto aos Preston? O que vamos dizer à eles?”

- “Nenhuma explicação será necessária. O feitiço que escrevi desfez todas as ações do demônio do fogo no mundo humano. Infelizmente, não podemos trazer de volta os mortos... então, os Preston vão lembrar apenas que o verdadeiro John morreu naquele incêndio, junto com seu pai”.

Raul já tinha forças para se levantar.

- “Será melhor assim. Não pude fazer nada para salvar a vida do meu amigo, mas fico feliz em ter ajudado a evitar que esse demônio causasse mal para mais gente”.

- “E o que você vai fazer agora?” perguntou Brianna.

- “Vou voltar para San Francisco, para junto da minha família.”

Uma expressão de tristeza surgiu no rosto da jovem bruxa. A partida de Raul afetava seus sentimentos bem mais do que ela podia imaginar.

- “Tem certeza de que não quer ficar?”

- “Esse lugar é um pesadelo para mim. E você não deveria ficar aqui também.”

- “Como assim?”

- “O que vai fazer, voltar a trabalhar para os Preston, naquela casa cheia de lembranças desagradáveis? Nada a prende aqui em Boston, Brianna. Você... poderia vir comigo para San Francisco, por exemplo...”

As irmãs se cutucaram, escondendo um sorriso.

- “Eu... em San Francisco? Não sei... o que eu faria lá?”

- “Minha família tem um pequeno negócio. Você poderia trabalhar conosco. Íamos ficar felizes com uma funcionária tão inteligente e dedicada”.

Brianna mal conseguia disfarçar sua satisfação com o convite.

- “Bom... acho que vou gostar de San Francisco!”

- “E por falar nisso, tenho dos filhos e um marido me esperando em casa. Phoebe, você está com o anel de Coop?”

- “Está bem aqui. É hora de partir! Nós também temos que voltar para o nosso lugar.”

- “Nem sei como agradecer tudo que fizeram por mim” disse Brianna, abraçando as irmãs. “Vou sentir saudades de vocês!”

Todos se despedem e as irmãs se preparam para retornar ao presente. Mas no momento em que a magia do anel de Coop está começando a funcionar, Phoebe interrompe o processo.

- “Só mais uma perguntinha... Raul, como é seu sobrenome?”

- “É Baxter. Sou Raul Baxter.”

- “Ahhh... então me prometa uma coisa.”

- “O que é?”

- “Quando um dia você se casar, e tiver uma filha, coloque nela um nome que comece com a letra ‘P’, está bem? É para lembrarem de nós!”

O rapaz sorri.

- “É claro! Vou ter o maior prazer em fazer isso.”

E as irmãs desaparecem no ar, rumo ao seu próprio tempo.
Fim

Um comentário:

Elaine disse...

Otima história!!

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