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9.
- “Que lugar é esse?” pergunta Prue, olhando para todos os lados da imensa galeria em que ela e Hope estão entrando.

O chão é de mármore muito liso e há colunas altas que sustentam o teto. Esculturas clássicas estão espalhadas por cada canto. Logo, ela percebe obras dos maiores pintores da história da arte penduradas nas paredes .

- “Aquele é um Ticiano! E aqui... um Monet! E são todos originais!”

Prue corre de um lado a outro, encantada como uma criança.

- “Esse Renoir está desaparecido há décadas! Como pode estar aqui? Aliás, todas essas peças estão espalhadas por museus do mundo inteiro... não podem ser originais!”

Usando suas habilidades de avaliadora de arte, Prue olha detalhadamente cada obra. Mas não encontra nada que demonstre que não são autênticas. Hope sorri e deixa que ela investigue mais um pouco, antes de dar a explicação.

- “São todas originais, Prue. Tão originais que já existiam mesmo antes de criadas por seus autores.”

- “Como assim?”

- “Nesse plano de consciência está a inspiração para toda a arte no mundo. Onde inteligência e criatividade se unem, o resultado é a Glória. E esses artistas chegaram até ela.”

Prue chega a um salão onde estão expostos quadros em arte abstrata.
- “Esse é um Pollock. Então nessa galeria está a origem de tudo, tanto da arte clássica quanto da moderna?”

- “A energia estimuladora do Universo é uma força que não conhece limitações de estilo. Ela é dinâmica, vigorosa e masculina como os traços desse quadro”, responde Hope.

- “Masculina?”

- “A dinâmica que estimula a evolução é masculina. A força feminina edifica as formas. O útero de uma mãe é a porta de ingresso para a matéria, a por intermédio dela a vida é animada na forma. Mas nenhuma forma pode ser infinita ou eterna. Por isso, a morte está implícita no nascimento.”

- “Quando minha mãe morreu, eu assumi o seu lugar. Comecei a trabalhar, cuidei das minhas irmãs, ordenei tudo ao meu modo. Eu não esperava ser substituída tão cedo nesse papel.”

- “E por isso, Prue, você jamais aceitou a Morte. Ficou presa à necessidade de voltar ao Mundo Material e assumir a mesma importância que tinha. Isso fez de você uma presa fácil para seres menos evoluídos.”

Prue pensa por alguns minutos no que Hope acaba de falar. Sua mente é inundada por lembranças da vida terrena: os demônios que enfrentou, o esforço para ser reconhecida profissionalmente, as dificuldades em se relacionar com Andy e com os outros namorados que teve, os momentos alegres, como o café da manhã em companhia das irmãs na Mansão.

Só então compreende que já não é mais aquela Prue. Ainda que não queira perder o contato com o passado, ela tem que, de alguma forma, evoluir.

10.

Piper e Nikolaus chegam a um imenso parque de diversões. Ela pode ouvir as conversas e risadas e ver a movimentação dos brinquedos mas, estranhamente, não vê ninguém ali.

- “Onde estão todas as pessoas desse lugar?”, pergunta.

- “Você acha que está vazio?”

- “Não estou vendo ninguém!”

- “Mas você não deve apenas acreditar no que vê. Vamos, venha.”

Nikolaus a leva até o salão dos espelhos. Piper sempre achou um tanto assustador ver o próprio corpo deformado, hora baixinha e gorda, hora esticada como um palito. Mas a imagem refletida num dos espelhos a surpreende.

- “Leo! O que está fazendo aqui?”

- “Olhe mais de perto, querida” diz Nikolaus.

Piper se aproxima e vê os traços do rosto no espelho se transformarem.

- “Victor? É o meu pai! Mas tenho certeza que era o Leo quem estava ali!”

- “Piper, esses espelhos são portais para o inconsciente. E as imagens que vemos nunca são muito claras. Porém, por trás delas existe a verdade.”

- “Você está querendo dizer que, no meu inconsciente, existe alguma relação entre Leo e meu pai?”

- “Eu não estou dizendo isso: o espelho está. Lembre-se: as figuras no nosso inconsciente tanto nos ajudam quanto podem nos enganar.”

Piper olha para cima e percebe que não está mais numa sala fechada. Os espelhos continuam ali, mas não há paredes e o céu está cheio de estrelas. Uma Lua imensa se ergue no horizonte, iluminando tudo com seus tons de azul.

- “A Lua é um símbolo do comportamento feminino”, explica Nikolaus. “Ela rege o inconstante, o misterioso. Feche os olhos, Piper, e siga o seu caminho para o autodescobrimento.”

Piper obedece e é como se imediatamente fizesse uma viagem no tempo. Ela se vê aos seis anos de idade, espiando atrás da porta uma discussão terrível entre seu pai e sua avó.

- “As coisas não tem que ser como você quer, Penelope! Essa é a minha família, eu sou marido de Patty e pai das meninas, e não vou permitir que uma estúpida tradição de bruxaria transforme a vida delas num inferno cheio de demônios!”

- “Tenha mais respeito pelo que fala, Victor! A missão delas está acima do seu egoísmo e dos seus desejos pessoais. Minha filha e minhas netas vão seguir o seu caminho, quer isso seja cômodo para você ou não!”

Piper consegue sentir o mesmo pavor que sentiu naquela época, ao assistir a briga pela primeira vez. Ela olha ao redor, e algo estranho chama sua atenção: a casa inteira está enfeitada. Num dos cantos da sala, há uma árvore de Natal exatamente no mesmo lugar onde Paige montou a sua, no presente.

“Alguém que faz biscoitos tão gostosos precisava mesmo ter uma boa razão para não gostar do Natal”. A voz de Nikolaus soa nos próprios pensamentos de Piper.

Ela se vê arrastada para o presente, dentro da cozinha do Pan. Com o excesso de trabalho, o lugar está uma confusão. Garçons e cozinheiros andam para todos os lados como formigas, sem saber como atender a todos os pedidos. Num canto, Leo olha para tudo como se estivesse muito ausente daquele lugar.

- “Leo!” grita a pequena Piper “esse lugar está uma bagunça, os clientes não estão sendo bem atendidos, faça alguma coisa!”

Mas não há reação alguma. Leo continua entorpecido, como se estivesse dormindo em pé.

- “Ele não pode escutar você”, explica Nikolaus. “Mas você pode sentir o que ele está sentindo”.

Piper percebe o quanto Leo está cansado. E também que, por mais que ele esteja feliz em ajudá-la, se sente um tanto entediado em trabalhar num restaurante. Essa não é sua verdadeira vocação.

- “Mas... ele sempre demonstrou tanto entusiasmo com o Pan! Como é possível?”

- “A vocação de Leo é auxiliar ao próximo, Piper. É claro que ele ficaria ainda mais feliz se o próximo for a mulher que ele ama. Mas agora, já é hora dele seguir o próprio caminho.”

- “Não! Leo já foi tirado de mim pelos anciãos, já se afastou de mim para tornar-se um ancião, já teve a memória apagada para que esquecesse da família... não vou deixar que desapareça de novo!”

- “E depois de tudo isso você não acha que, se o destino de vocês fosse a separação, ela já teria acontecido? Leo não é como o seu pai. Ele não vai abandonar a família. Não é justo que ele não possa escolher seu próprio destino.”

Piper fica pensativa. Nikolaus continua:

- "Vamos voltar algumas horas no tempo e ver porque ele está assim."

Piper passa então a ver o que aconteceu dentro do escritório do Pan. Yossi está tendo uma conversa com Leo.

- "Não adianta, Yossi: Piper nunca vai aceitar isso e, por mais que eu queira, não vou colocar em jogo a harmonia da nossa família."

- "Mas Leo, você está sendo muito radical! Nem falou com ela ainda!"

- "Eu sei como ela vai reagir."

- "Leo, você está dando as costas para o seu próprio futuro, para a sua vocação! Olhe bem nos meus olhos e responda com sinceridade se a proposta que estamos lhe fazendo não lhe agrada!"

- "Muitas vezes temos que abrir mão de algumas coisas de que gostamos por outras."

- "Seriam palavras sábias, se você ao menos tivesse dado a Piper a chance de opinar. Mas você não quer nem falar com ela!"

- "Não adianta, Yossi. Piper jamais vai concordar que eu me torne professor na Escola Mágica!"

A imagem se desfaz no espelho. Piper está chocada.

- "Então Leo recusou o convite para fazer algo de que gosta apenas para não me magoar... eu não tinha idéia de que estava sendo tão radical assim!"

- “Piper, vocês já enfrentaram todos os obstáculos para provar que o que sentiam um pelo outro. Agora, é tempo de deixar que esse amor se torne algo ainda maior. Pense também na felicidade de Leo... você vai se sentir mais segura quando aprender a ter confiança no que já conquistou.”

11.

Paige está tirando a louça da janta quando ouve o toque do seu celular. A ligação é do Pan.

- “Leo? Por que está usando o telefone para falar comigo?”

Do outro lado da linha, um Leo confuso e atarefado tenta resolver mil problemas no restaurante enquanto fala com a cunhada.

- “Eu... simplesmente não tenho tempo para orbitar, Paige! As coisas aqui no restaurante estão uma loucura! Escute, não estou conseguindo encontrar a Piper em lugar nenhum. Ela ficou de voltar para cá no final da tarde, e ainda não apareceu. Liguei pro celular dela, não atende. Na Mansão também parece que não tem ninguém. Estou ficando muito preocupado!”

- “A última vez que eu a vi foi no início da tarde. Ela estava na Mansão com a Mina e os meninos.”

- “Bem, com todo esse movimento no Pan eu só vou poder sair daqui a uns quarenta minutos... Será que você pode verificar como estão as coisas lá em casa para mim?”

- “Claro! Vou até a Mansão agora mesmo. Enquanto isso, dê uma ligadinha para a Phoebe e veja se ela não sabe de nada”.

Paige desliga e coloca uma esponja cheia de detergente nas mãos de Henry.

- “Querido, hoje a louça é sua!”

Depois, ela orbita até a Mansão.



12.
Piper não faz idéia de que há pessoas preocupadas com sua ausência. Ela sente o vento tocar-lhe o rosto como se estivesse viajando numa carruagem pelos ares, e admira as paisagens maravilhosas que Nikolaus a leva para conhecer. São ilhas tropicais, grandes cachoeiras, florestas cheias de aves coloridas, e lagos gelados onde a água reflete o céu com perfeição.

- “Há tanta beleza no mundo! Não sei por que eu jamais prestei atenção nessas coisas...”

- “Sua vida sempre foi muito cheia de compromissos”, responde Nikolaus. “Você assumiu as responsabilidades e o trabalho da vida terrena, e conseguiu concretizar seus sonhos. Mas agora é hora de buscar mais equilíbrio com as emoções.”

O pensamento de Piper volta no tempo. Ela lembra da primeira vez que encontrou o fantasma da própria mãe. “Você sempre foi o coração dessa família”, disse Patty. Nikolaus consegue ver essas lembranças.

- “Percebe, Piper, como você mudou? Seu coração era cheio de fé e de magia!”

- “Mas a magia se tornou uma coisa real... real demais, talvez. Se transformou em problemas a serem resolvidos e demônios a enfrentar. Por isso minha maior vontade, esses anos todos, foi voltar a ter uma vida normal.”

- “E o que é ‘normal’? A vida é o que fazemos dela! O que está por trás da forma concreta, é o produto dos nossos pensamentos que foram projetados pela emoção. A mesma emoção ou pensamento que cria momentos difíceis, pode nos ajudar a concretizar o Bem.”

Enquanto Piper medita sobre o que acaba de ouvir, Prue continua seu caminho com Hope. As duas entram no que parece ser um grande berçário, cheio de bebês.

- “Essas são almas dos bebês que ainda não nasceram”, explica a menina. “Estão aqui apenas esperando pela hora de ingressar no mundo material.”

- “Mas... ninguém cuida deles aqui?”

- “Eles são cuidados pela Grande Mãe”.

As duas se aproximam de uma velha senhora, muito curvada, que caminha entre os berços.

- “Ela é a Mãe de Toda a Vida. Através dela, vem a força para que tudo possa ter uma manifestação”, diz Hope.

- “Mas é apenas uma velhinha!”, espanta-se Prue.

A velha senhora vira-se para Prue e olha bem dentro dos seus olhos.

- “Quando a vida vira matéria, ela também se torna muito menos livre do que era quando ilimitada. Talvez isso explique a você a minha aparência quando me manifesto na matéria. A existência humana é um encarceramento”, ela diz.

- “Mas você é a Grande Mãe; seu poder deve ser ilimitado! Por que se conformar com um corpo marcado pela idade?”


- “Esta não é quem eu sou. Assim é como VOCÊ me vê.”

Dizendo isso, a velha se transforma numa feiticeira jovem, com longos cabelos cacheados que lhe caem pelos ombros.

- “Já me chamaram de Morgana, a Rainha das Fadas. Já me chamara Ísis e Binah. Não tenho medo da forma, pois não há nada em mim que possa envelhecer ou morrer. O espírito desencarnado é imortal. Mas o espírito encarnado vê a morte no horizonte tão logo o dia nasce.”

Prue está assombrada com essas revelações. Em seu desejo pela vida terrena, jamais deu valor algum ao que poderia fazer tendo voltado ao mundo espiritual.

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