Dentro da caverna, Carlo e o Xerife recobram os sentidos, com fortes dores no peito.
- “Desgraçadas, elas fugiram! Lilith vai acabar conosco!”
- “Temos que encontrá-las antes que Lilith descubra o que aconteceu” ordena o xerife. “Além do mais, elas não vão longe com aquelas correntes”.
Os dois saem para a rua, mas não avistam mais as irmãs. O xerife funga no ar como se fosse um cão perdigueiro. Carlo faz o mesmo. Por isso, são chamados de demônios farejadores.
- “Foram ali, pelos arbustos, em direção ao lago. Vamos pegar o carro e seguir pela estrada”, diz o xerife.
Enquanto isso, as irmãs correm desajeitadamente pela mata rasteira, ferindo-se na vegetação.
- “Vamos parar um pouco, preciso descansar” pede Phoebe, para quem movimentar-se é mais difícil por estar presa no meio das irmãs.
- “Eu não consigo entender isso” diz Piper, olhando para as próprias mãos. “Nunca ficamos sem nossos poderes desse jeito!”
- “Vamos tentar de novo, pode ser que tenham voltado” sugere Paige.
As irmãs se concentram por alguns minutos. Depois, abrem os olhos e cada uma tenta usar o seu poder. De novo, nada acontece.
- “O que fizeram conosco?” espanta-se Piper.
- “Bom, o jeito agora é sair daqui. Onde será que estamos?”
- “Muito perto do lago, veja!” diz Phoebe, apontando para frente. “Vamos ter que fazer a volta.”
- “Por aqui!” dizem Piper e Paige ao mesmo tempo, mas cada uma correndo para um lado.
- “Ei, parem! Olha eu aqui!” grita Phoebe, com os braços esticados.
- “Desculpa... vamos para onde? Que tal para a direita?”
- “Todas para a direita então”, ordena Piper.
As irmãs correm até avistar uma construção antiga, que parece um dia ter sido um posto de gasolina.
- “Tem um carro ali. Quem sabe não está com as chaves?”
É uma camionete bem velha, com caixas e mais caixas de batatas na caçamba. “Estou começando a detestar essas batatas!” diz Phoebe. Elas vasculham por todos os cantos, procurando uma maneira de ligar o veículo.
Enquanto isso, perto dali, os dois demônios fazem a volta pela estrada do lago.
- “Como vamos encontrá-las? Não consigo mais sentir o cheiro delas por aqui” pergunta Carlo.
- “Não se preocupe. Logo estaremos mais perto delas. Sou capaz de apostar que vão tentar se esconder no velho galpão da oficina. E é lá mesmo que vamos acabar com elas!”
14.
- “Você não vai nos ajudar?” pergunta Phoebe.
Enquanto ela e Paige reviram o interior da camionete em busca da chave, Piper está parada, pensativa.
- “São dois demônios inferiores, nem poderes ativos eles têm! Como puderam fazer isso conosco?” pensa em voz alta a irmã mais velha.
- “Mas os farejadores sempre trabalham para demônios poderosos, lembra o que estava escrito no Livro das Sombras?” diz Paige, procurando dentro do porta-luvas do veículo.
- “E a quem será que eles servem?” pergunta Piper, ainda parada.
- “Isso me lembra uma coisa. Quando acordamos, na caverna, Carlo e o Xerife estavam discutindo algo sobre nos matar e usar isso como uma espécie de troféu no mundo inferior. Só que estariam desobedecendo alguém... como era mesmo o nome?” pergunta Paige.
- “Lilith! É isso!” grita Phoebe, num sobressalto.
- “Como é que é?”
- “Ontem à noite, enquanto vasculhava o escritório da diretora Sorenson, descobri um altar de magia negra atrás de uma cortina. Bem no centro havia uma estátua em tamanho natural de uma mulher belíssima. Era uma estátua de pedra, muito perfeita. Quando olhei, tive a impressão de já ter visto aquele rosto antes. E é claro que sim, porque está desenhado no Livro das Sombras! É Lilith!”
Piper faz cara de espanto.
- “Aquela Lilith, a primeira mulher de Adão?”
- “Essa mesma!” confirma Phoebe. “Lilith foi expulsa do Paraíso por não querer sujeitar-se a seu marido. Ficou furiosa e, em sua sede de vingança, tornou-se um demônio.”
- “Mas... qual a ligação dela com a prisão de Pine Parrish?” pergunta Paige.
- “Lilith usa o sexo para promover o mal. Seu interesse era prostituir jovens que jamais haviam cometido crime algum. E isso veio bem a calhar com a vontade da senhora Sorenson de fazer fortuna ilegalmente.”
- “A chave não está aqui, mas olhem o que tem no banco de trás” diz Paige, apontando para um imenso alicate de corte. Ela estica a mão e pega a ferramenta. “Sei que somos muito próximas, mas é hora de tornar isso apenas uma figura de linguagem” ela diz, rompendo as algemas de Piper.
Depois, é a vez de Piper libertar Paige. Por último, Phoebe é libertada do que restou das incômodas algemas.
- “Ufff! Esse não é o tipo de bracelete que me convém” ela diz, esfregando os pulsos doloridos.
Mas, nesse momento, seu corpo estremece de cima a baixo.
- “O que foi, você está bem?” perguntam as irmãs.
- “Vocês não vão acreditar... meus poderes voltam! Acabo de ter uma visão.”
- “Voltaram? Deixa eu ver isso...” fala Paige, orbitando e reaparecendo no mesmo lugar. “É mesmo!”
- “Vocês não vão querer saber o que eu vi?”
- “Então eram essas algemas o tempo todo...” Piper pega o que restou do artefato do chão. “Como podiam ter tanto poder?”
- “EI, eu estou falando com vocês, querem prestar atenção? Eu vi Carlo e o Xerife vindo diretamente para cá pela estrada. Vamos dar o fora daqui!”
- “Ainda não.” Piper esconde o que sobrou das algemas dentro da camionete. Depois, vai até o meio da estrada de terra. “Venham, fiquem ao meu lado e coloquem as mãos para trás como se ainda estivessem presas.”
Nesse momento, o carro dos demônios farejadores surge na estrada, a toda velocidade.
- “Você tá maluca? Eles estão armados!”
- “Sei. São uns demônos de araque.”
- “Piper...”
- “Calma ai...”
Carlo coloca uma espingarda para fora da janela e começa a atirar. As balas pipocam, levantando poeira do chão ressequido.
- “Piper...”
- “Só mais um pouquinho. Nada de orbitar, ein?”
Os tiros atingem o chão bem ao lado dos pés de Paige.
- “Piper!”
- “Venham, demônios de meia-tijela!” grita Piper, posicionando suas mãos para o ataque e concentrando tanta energia que o carro inteiro voa pelos ares numa grande explosão.
- “Uou!” diz Phoebe, desviando de um pedaço de metal incandescente que acaba de cair bem ao seu lado. “Você estava irada, ein?”
- “Isso é só o aperitivo... ainda temos que dar um jeito em Lilith. Vamos, acho que está na hora de fazer uma visitinha para nossa velha amiga, a senhora Sorenson”.
15.
Sentada em sua escrivaninha, a diretora da prisão está preocupada. Já faz algum tempo que ela tenta contato com o celular do Xerife, mas a ligação cai sempre na caixa postal. “Só falta esse imbecil ter feito alguma coisa errada” ela pensa, imaginando se deve ou não invocar Lilith para avisar.
Se mais alguma coisa sair do controle, a reação de Lilith será imprevisível. No entanto, a diretora sabe que depende dos poderes de sua mestra para resolver qualquer problema maior. Sorenson vai até o altar, abre a cortina e, depois de meditar por alguns minutos, decide invocar a demônio.
- “Ò mãe negra de todo o Universo, eu te invoco nessa hora! Lilith suprema e poderosa, senhora de todos os infernos, venha atender essa sua serva!”
As chamas das velas viram uma labareda de fogo. A estátua de pedra ganha vida, e Lilith está de volta.
- “O que foi dessa vez? Você está com cara de más notícias.”
- “São os farejadores... não voltaram na hora marcada, e não consigo contato com eles de jeito algum!”
- “Pois eu tenho um recado deles para vocês” diz Piper, que surge orbitando com Paige e Phoebe.
Lilith imediatamente lança três bolas de fogo ao mesmo tempo, mas Paige desvia elas no ar, e manda de volta para a demônio, que foge. A senhora Sorenson tenta correr, mas Phoebe a segura e dá uma chave de braço, paralisando a velhota corrupta.
Ao perceber que não terá chances contra as Encantadas, Lilith volta ao altar e começa a transformar-se em pedra novamente. Mas Piper interrompe o processo com um gesto das mãos, congelando a demônio do pescoço para baixo e impedindo que se vá.
- “Você pode ser o demônio mais velho do mundo, mas não vai sair daqui. Diga o que colocou naquelas algemas para suprimir nossos poderes!”
- “Sua tola! Acha mesmo que eu vou contar? Me solte imediatamente ou vai se arrepender!”
- “Você não está em posição de fazer ameaças. Mas talvez sua cúmplice aqui queira falar, não é Sorenson?” diz Phoebe, apertando o braço da diretora da prisão.
- “Eu não sei de nada, foi ela quem trouxe a poção do Mundo Inferior e colocou nas algemas!”, delata a mulher.
- “Poção? Onde você conseguiu isso?” pergunta Piper.
- “Você jamais vai saber! E assim que eu sair daqui estará morta! Você não têm poder o bastante para me destruir!”
- “Mas é exatamente por isso que usamos o Poder das Três”, diz Piper, dando as mãos com as irmãs. Elas começam a entoar em conjunto:
- “Demônio das trevas, de tempos idos,
Aqui ninguém mais será corrompido!"
Lilith solta um berro de agonia. Em seguida sua metade pedra explode no ar, e a demônio é engolida por uma labareda de fogo.
Da rua, vem o barulho do motor de um carro que pára na frente da casa.
- “É a polícia, Sorenson. Que ironia, ein? A diretora da prisão vai para trás das grades!”, diz Piper.
- “Não podem mandar me prender... vou contar para todo mundo que são bruxas!”
- “Faça isso, e vai parar direto no manicômio judiciário. É lá que você quer passar o resto da vida?” responde Phoebe.
Do corredor, vem a voz de Henry.
- “Paige, onde estão vocês?”
- “Estamos aqui!”
O policial entra no escritório e encara a senhora Sorenson.
- “O corregedor está vindo para cá com reforços. Ele já estava investigando o Fórum de Pine Parrish, e descobriu muitas irregularidades. E eu tenho um mandato de prisão contra a senhora”.
- “Henry, querido, você trouxe as algemas?”
- “Sim, estão aqui. Por quê?”
Paige pega as algemas da mão do marido e, com a ajuda de Phoebe, prende as mãos da ex diretora.
- “Porque, nesse momento, nada nos deixa mais felizes do que fazer isso!”
16.
A tarde termina em San Francisco. No sótão da mansão, Piper e Phoebe conversam enquanto esperam por Paige.
- “Apenas vovó conseguiu suprimir nossos poderes, e isso foi quando ainda éramos crianças! Eles nem estavam desenvolvidos.”
- “Mas nós já perdemos nossos poderes antes, Piper. Quando os usamos umas contra as outras, lembra?”
- “Mas isso foi diferente. Dessa vez não fizemos nada, foi tudo obra de uma poção! De repente me sinto vulnerável, sabendo que qualquer demônio pode ter acesso a uma fórmula que retira nossos poderes, não importa quão fortes eles estejam.”
Phoebe sabe que ela tem razão, mas quer tranqüilizar a irmã.
- “Seja o que for, o segredo certamente morreu junto como Lilith”.
Um brilho no ar anuncia a chegada de Paige.
- “Olá, tenho novidades! Os investigadores encontraram um caminhão de provas contra a senhora Sorenson, Maxine e seu batalhão de carcereiras corruptas. E, adivinhem? Quase todas as prisioneiras de Pine Parrish estão sendo libertadas. As condenações delas eram totalmente irregulares”.
- “E como Kristin reagiu ao saber da verdade sobre a morte da irmã?”
Paige faz uma cara triste.
- “Muito mal. Elisabeth era toda a família que ela tinha. Mas Kristin está sabendo lidar com a dor. Está ajudando algumas ex-detentas a reencontrarem um caminho na vida.”
- “Vai ser uma batalha dura para elas, depois de tudo o que passaram...”
- “Eu mesma quero fazer a minha parte. Lembram de Linda, a moça com quem fiz amizade na prisão? Bem, estou precisando de uma secretária na agência de modelos, e resolvi contratá-la.”
- “Isso é ótimo, Paige! Você é tão boa irmã que até merece comer um dos meus bolinhos!”
- “Bolinhos? Você fez bolinhos? Oh, não... lá se vai minha dieta! Assim jamais vou conseguir voar pelos ares como a Phoebe!”
As irmãs riem e vão para a escada, deixando o sótão em direção à cozinha para experimentar as delícias da culinária de Piper.
Ao chegar à porta, entretanto, a irmã mais velha olha para trás. Em cima da mesa está um pedaço das algemas enfeitiçadas que as prenderam em Pine Parrish, que ela trouxe para fazer uma análise.
Piper solta um suspiro. Seu coração está inquieto.
Mas decide que não vai se preocupar com isso agora. “Talvez Phoebe tenha razão e agora estejamos seguras" pensa, deixando o sótão e fechando a porta atrás de si.
FIM
Um comentário:
magnifica historia
para quem leu a nona temporada, nao se surpreende pela qualidade da 10ª temporada
estou ansioso pela continuaçao desta temporada
pelo final do episodio 10.2, vem coisa ai!
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